sábado, 27 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
sexta-feira, 19 de junho de 2015
TENHO POSSIBILIDADES DE VENCER
“Tenho possibilidades de
vencer!”, diz Sampaio da Nóvoa, candidato a presidente de Portugal
Rossana Tonetti
Em entrevista ao Portugal Digital,
Nóvoa fala sobre alguns dos temas mais relevantes das relações bilaterais,
dedica especial atenção às áreas da educação e da cultura e às relações com as
comunidades portuguesas, critica vários aspectos da governação em Portugal nos
últimos anos, condena políticas de austeridade, defende a aproximação às
comunidades portuguesas, diz “não” à privatização da TAP e tece comentários à actualidade
e ao modelo político brasileiro. “Tenho possibilidades de vencer”, afirma.
Brasília - Candidato às eleições presidenciais em Portugal, em
2016, António Sampaio da Nóvoa participou das comemorações do Dia de Portugal,
em Brasília, no último dia 10. A mais recente pesquisa indica que Sampaio
da Nóvoa lidera a corrida dos potenciais candidatos com 40% das intenções
de voto. “Tenho possibilidades de vencer!”, afirma.
Durante três dias, o professor catedrático e ex-reitor da Universidade
de Lisboa cumpriu uma extensa agenda política e académica na capital
brasileira, onde recebeu doutoramento Honoris Causa pela Universidade de
Brasília (UnB). Na ocasião, o candidato apresentou ao ministro da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, um dos principais pontos da sua carta de princípios: o
aprofundamento das relações entre Portugal e os países de língua portuguesa.
Nóvoa, 60 anos, também manteve encontros com o governador do Distrito
Federal, Rodrigo Rollemberg, a ambientalista Marina Silva, candidata à
presidência do Brasil em 2014, e o senador Cristovam Buarque, além de membros
da Fundação João Mangabeira, ligada ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Em entrevista ao site Portugal Digital, Nóvoa fala sobre alguns
dos temas mais relevantes das relações bilaterais, dedica especial atenção às
áreas da educação e da cultura, critica vários aspectos da governação em
Portugal nos últimos anos, condena políticas de austeridade, defende uma
praxis presidencial de aproximação às comunidades portuguesas espalhadas pelo
mundo, diz “não” à privatização da TAP e tece comentários à actualidade e ao
modelo político brasileiro.
Sampaio da Nóvoa aborda também questões importantes para o
aprofundamento das relações diplomáticas entre Brasil e Portugal, como os
entraves burocráticos para o reconhecimento de graus académicos entre
estudantes dos dois países. Ele também pontua a emigração em massa de jovens
portugueses, sobretudo para o Brasil, como uma das grandes preocupações, que
ameaça de forma abrangente o futuro da nação. Contudo, em tom optimista,
elenca uma série de factores que garantem condições favoráveis para que
Portugal possa reverter a situação.
No sábado (13), a caminho da entrevista, Nóvoa recebeu, com grande
satisfação, um SMS em seu celular com uma pesquisa que indica 40% das intenções
de voto em sua candidatura. “É extraordinário para uma pessoa ainda quase
desconhecida”, avaliou, com um misto de alegria e humildade.
PD - O senhor já trabalhou no
Brasil, que tem sido um destino profissional para cada vez mais jovens
portugueses que não encontram trabalho em Portugal. Acredita que os jovens que
emigram para o Brasil algum dia voltarão para Portugal?
Nóvoa –
Não sabemos se eles um dia retornarão. A saída em massa de milhares de jovens é
um dos nossos maiores dramas. Não há números concretos, mas estimamos cerca de
140 mil pessoas por ano – e não temos a noção exacta da faixa etária. Se estes
números estiverem certos, teremos meio milhão de cidadãos em quatro anos. O que
é uma sangria impressionante para um país pequeno, com dez milhões de
habitantes. E, se dessa quantidade uma parte considerável for de jovens
qualificados, estamos falando de uma realidade dramática. A população de um
país custa dinheiro durante toda a sua formação e parte dela sai justamente no
momento em que se torna produtiva, para regressar – porque todos os
portugueses adoram a sua pátria – quando começa a dar custos sociais, com
o seu envelhecimento.
Vivemos, ainda, um desequilíbrio demográfico enorme, com baixos
índices de natalidade. Portanto, temos que recuperar a confiança no país e a
capacidade de integração desses jovens, sob pena de Portugal não ter futuro, no
sentido literal do termo. Podemos resolver as dificuldades financeiras e o
equilíbrio nas contas públicas, mas de nada adianta se não conseguirmos
encontrar soluções para este problema.
PD – Se eleito, como chefe
de Estado e dentro do que lhe é permitido pela Constituição, quais as
soluções que o senhor pode orientar para essa situação?
Nóvoa – A
orientação central para essa matéria resulta de uma equação muito fácil. Temos
excelente infraestrutura rodoviária, ferroviária, tecnológica, educação, saúde,
entre outras, em todas as cidades portuguesas. Nossa localização geográfica é
extraordinária, com recursos imensos do ponto de vista do mar, sobretudo agora
que a nossa plataforma continental passa a ser a maior da Europa, em grande
parte ampliada pelos arquipélagos de Açores e Madeira. Somos um país
hospitaleiro e sem violência.
Se temos tudo isso, além de jovens com formação qualificada e bons
centros tecnológicos, falta apenas uma forma de ligar uma ponta à outra e
criarmos condições para superar essa situação. Precisamos de uma política
estruturante que cole estas duas pontas. Algo que não foi feito nos últimos
quatro anos porque tudo estava centrado na política de austeridade. Tudo era
feito para reduzir despesas públicas. Portugal atacou parte do problema,
mas se esqueceu do todo e de uma ideia de futuro.
Como presidente da República eu não governo, mas tenho como oferecer o
núcleo das políticas estruturantes para o país. Temos muitos problemas económicos
para resolver, mas vemos que falta política e que estamos cegos. Como se o país
fosse fechar e desaparecer.
PD – O senhor, que já morou no
Brasil, e que tem acompanhado a actual situação política e económica do país,
como encara o momento delicado que o país atravessa?
Nóvoa – Penso
que da forma como Marina Silva entrou na disputa [com a morte de Eduardo
Campos, ex-presidente do PSB e candidato presidencial] foi um momento de
comoção muito grande e que o país não se recuperou. É como se o Brasil ainda
estivesse em processo eleitoral, se movimentando para um terceiro ou quarto
turno. Parece que ainda não se iniciou regularmente um novo mandato
presidencial. Tenho a sensação de que é uma situação conjuntural, uma espécie
de abalo, que as coisas ainda não se encaixaram de vez. Mas vai passar porque o
país precisa de estabilidade política para os próximos anos e isso é decisivo.
Vejo também com preocupação o sistema político brasileiro. É difícil
conseguir maiorias estáveis para governar. Embora o presidente vença as
eleições, há necessidade de muitos acordos e configurações nas
plataformas políticas. Nas conversas que tive, ouvi comentários sobre a
necessidade de uma reforma política, mas sobre este assunto eu não vou
pronunciar-me.
PD - Que papel deve ter um
presidente da República na relação com as comunidades portuguesas espalhadas
pelo mundo?
Nóvoa – Nas
quatro funções que a Constituição atribui ao presidente, duas são definidas do
seguinte modo: representar a República Portuguesa e garantir a unidade do
Estado. Na leitura que faço da Constituição, essa função de representação tem
que ser estendida às comunidades da diáspora. Isso implica deslocamentos
frequentes do presidente até essas comunidades e que ele as ouça mais e traga
os problemas delas para dentro da política portuguesa. E, ao mesmo tempo,
garanta a unidade de todas as comunidades portuguesas que vivem no estrangeiro
e que têm um papel extraordinariamente importante, no plano cultural, económico
e político. Um dos grandes patrimónios de Portugal são estas comunidades e a
língua portuguesa. Nenhum outro país do mundo tem a capacidade de ter isso na
América, na África, na Europa e na Ásia, com laços fortes de identidade. O
presidente da República tem a obrigação de valorizar esta dimensão. Algo que,
infelizmente, não se tem feito.
PD – E as relações diplomáticas,
em especial, com o Brasil?
Nóvoa - Se eu
for eleito presidente, uma das primeiras visitas ao exterior será o Brasil, que
por sinal está na minha carta de princípios. A viagem destes três dias foi
realizada com o propósito de valorizar a língua [juntamente] com o Brasil e com
países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Nas relações entre
Portugal e Brasil, é evidente que há sempre problemas e dificuldades. Mas
estamos em uma fase muito boa, tanto política e económica, quanto académica e
cultural. Na área académica e universitária é absolutamente impressionante a
colaboração entre as universidades dos dois países. No âmbito da economia,
temos aumento significativo dos investimentos. No turismo, vemos a ida de
brasileiros a Portugal e ficamos impressionados como eles gostam.
PD - No plano do ensino
superior, tem ocorrido crescente intercâmbio de estudantes entre Portugal e o
Brasil, mas persistem problemas no reconhecimento de graus académicos. Por que
é que dois países que partilham a mesma língua ainda não conseguiram um grau mais
elevado de cooperação académica?
Nóvoa – Não
há nenhuma explicação e é inaceitável que isso aconteça. É uma situação grave
nas relações académicas entre os dois países e que tem que ser resolvida já.
Durante muito tempo o problema foi de Portugal, sendo que o mais conhecido foi
com os dentistas brasileiros. Havia alguma desconfiança em relação à qualidade
das formações que eram oferecidas no Brasil, com razões objectivas, uma vez que
em Portugal os dentistas são médicos com especialização em medicina dentária,
enquanto no Brasil a formação ocorre desde o princípio, como no modelo
norte-americano. Mas isso já foi resolvido. Tanto que as universidades
portuguesas já consideram inclusive a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio) como porta de entrada. Entretanto, o problema persiste hoje mais pelo
lado brasileiro, em função de um sistema muito burocrático da validação e
reconhecimento de graus. Quando nos damos conta, já se passaram um ou dois anos.
Na minha opinião, os dois países têm que concordar com uma lista oficial de
universidades e, com isso, tornar a validação automática. Basta verificar a
autenticidade dos documentos. Quando era reitor da Universidade de Lisboa, este
processo, em mais de 90% dos casos, era despachado em menos de 24 horas.
PD - Em Portugal o estatuto do
presidente da República é menos interventivo do que em outros países do mundo,
como no Brasil. Se for eleito em 2016 mudará alguma coisa na forma de exercer o
cargo de presidente da República?
Nóvoa – Muita
gente critica os poderes que a Constituição atribui ao presidente da República,
mas eu apresento, no primeiro parágrafo da minha candidatura, a defesa dos
princípios e valores da Constituição. Os poderes que ela atribui ao presidente
são mais do que suficientes para que ele tenha um papel importante na vida
política de Portugal.
Quero ser um presidente próximo e que fala e ouve directamente os
portugueses. As pessoas precisam reconquistar a confiança na política. O meu
entendimento do cargo é de relevância no plano nacional, alargado do pequeno
para o maior; do local para o global - com uma presença melhor no mundo,
abraçando mais as causas humanitárias, de justiça social e de paz, o que
raramente tem sido feito em Portugal. Creio que a última vez que um
presidente teve um papel preponderante em uma causa internacional foi na
independência do Timor Leste, com Jorge Sampaio. Para fazer isso, não é preciso
mudar uma vírgula na Constituição.
Vários candidatos ditos
independentes (que se candidataram sem o apoio dos maiores partidos políticos)
conseguiram votações interessantes nas últimas eleições em Portugal (casos de
Manuel Alegre, Fernando Nobre, entre outros), mas acabaram por não se impor
como soluções efectivas no panorama político português. O que é que tem faltado
para que as candidaturas independentes, como a sua, possam de fato vencer?
Nóvoa –
Portugal viveu 48 anos de ditadura. Anos dolorosos e difíceis do século XX. Quando
veio a revolução de 1974 (25 de Abril - Revolução dos Cravos) e, depois, a
Constituição de 1976, era preciso proteger os partidos e dizer “não queremos
mais uma sociedade sem partidos”.
Quarenta anos depois, vivemos uma fase em que é preciso dizer que os
partidos são fundamentais, mas eles não esgotam toda a dimensão política. Há
política além dos partidos. E uma candidatura independente, como a minha, nunca
será feita contra os partidos, mas para ampliar o espaço da democracia e tentar
trazer muita gente que hoje está cansada e desiludida dos partidos e dos
políticos profissionais. Creio que hoje a sociedade portuguesa está preparada
para que um candidato independente possa assumir a Presidência da República e
ter o papel que a Constituição lhe consagra. Claro que há complicações. O
independente não tem uma máquina partidária, o que torna os problemas
financeiros de campanha mais difíceis. Por outro lado, se fosse fácil, não
teria graça alguma. E tudo indica que tenho possibilidades de vencer.
Acredita que é possível um
entendimento dos maiores partidos de esquerda, nomeadamente PS, PCP e Bloco de
Esquerda, para formar uma coligação com maioria parlamentar para governar
Portugal?
Nóvoa – Com
certeza! No processo de candidatura procuro contar com o apoio de partidos
progressistas, socialistas e de sectores com grande preocupação social. Uma vez
eleito presidente, a declaração canónica na noite das eleições passará a ser
“eu sou o presidente de todos os portugueses”. Dos que votaram e daqueles que
não votaram em mim. E um presidente tem que respeitar todos os votos, gostando
mais ou menos de certas orientações ou partidos. E a Constituição, ao deixar o
governo para os partidos, permite que o presidente seja o homem do diálogo, um
moderador de todos os partidos. E isso é algo intrínseco à minha maneira de ser,
porque eu falo e ouço a todos e sou capaz de criar acordos entre pessoas pouco
prováveis. Isso é tão verdadeiro que três ex-presidentes, Ramalho Eanes,
Mário Soares e Jorge Sampaio, todos de personalidades e pensamentos muito
diferentes, apoiam a minha candidatura.
Que argumento vai utilizar para
conquistar os cidadãos indecisos e insatisfeitos e levar mais portugueses a
votar nas próximas eleições presidenciais, em vez de ficarem em casa?
Nóvoa –
Existem duas palavras que vou repetir dia após dia: confiança e esperança.
Tentar com que as pessoas tenham confiança em alguém que nunca fez outra coisa
na vida a não ser defender as causas públicas e sociais e uma vida dedicada ao
bem público, como professor, educador e reitor. E que esse homem candidato à
Presidência da República não tem nenhum interesse pessoal e que chegou aos 60
anos disposto a trabalhar por uma causa maior e com total desprendimento. E
essa confiança tem que ir de encontro a um discurso de esperança, de um futuro
para Portugal.
Como o senhor recebeu a notícia
da privatização da TAP e a aquisição por um investidor americano com interesses
no Brasil? O Partido Socialista disse que, se vencer as próximas eleições,
fará de tudo para que o Estado continue a manter a maioria do capital
social da companhia aérea. Quais seriam as medidas cabíveis se o senhor
vencer as eleições?
Nóvoa –Sou
contra a privatização. Para alguns sectores que são estratégicos para o nosso
futuro e a nossa posição no mundo, precisamos da TAP nas mãos públicas. Apoio o
movimento “não TAP os olhos” e espero que a privatização não se conclua.
Manifestações realizadas esta
semana em Lisboa exigem 1% do PIB para a Cultura. O manifesto “Dias da Cultura
em Luta – Por outra política para a cultura” foi assinado por 58 entidades, associações
e sindicatos, que defendem que “as forças da cultura em luta devem dar um
sinal forte e claro a favor de outra política”. O senhor também é favorável a
este percentual?
Nóvoa – Essa
é uma luta de muitos anos e para a qual estou de acordo. Minha candidatura é
feita em nome da cultura, no sentido amplo do termo, em que cabem muitas
definições, como a cultura científica, a artística e a tecnológica. É
importante que haja no próximo governo uma área mais forte para a cultura com
investimento público. Há muito tempo que me vejo junto com essas
reivindicações.
Em seu discurso realizado em 10
de Junho, em Lamego, o presidente Cavaco Silva afirma que, se os partidos de
oposição ganharem as eleições, terão que se comprometer com os fundamentos
económicos que o actual governo defende. O senhor não considera este discurso
positivo quando comparado à crise económica do País nos últimos anos?
Nóvoa – Não
vou comentar, seja positivo ou negativo, as palavras do senhor presidente da
República, em respeito ao cargo e à pessoa. Agora, posso expressar minhas
opiniões. Como candidato, tenho uma posição crítica em relação às políticas de
austeridade que têm acontecido na Europa, que conduziram muitos países a um
beco sem saída. Elas trouxeram uma grande pobreza e incapacidade de apostar no
futuro. Portanto, espero que o próximo governo mude consideravelmente a
política económica dos últimos anos.
Em relatório divulgado
recentemente, o FMI sugere cortes financeiros em Educação. No entanto, o
ministro da Educação, Nuno Crato, disse que não tenciona fazer cortes, uma vez
que os recursos para a Pasta estão concentrados onde é necessário. O senhor
concorda com o ministro?
Nóvoa – Não
as conheço, mas se ele as fez eu concordo inteiramente. Infelizmente, ao longo
dos últimos quatro anos, esse ministro provocou enormes cortes na educação. Foi
a área, neste período, com mais cortes orçamentais e superiores ao famoso
Memorando da Troika. Portanto, se o
senhor ministro tem uma posição diferente sobre essa matéria, a única coisa que
posso dizer é bravo.
Por deferência de António Melo
que faz o seguinte
Comentário
Gostei - da entrevista e do entrevistado.
A abordagem às relações com o Brasil, sobretudo no caso das
equivalências académicas é sóbrio e contém uma via de resolução.
Do mesmo modo apreciei a visão do cargo presidenciável nas relações
com as comunidades da diáspora e como pode contribuir para uma aproximação
entre os partidos na projecção internacional do país.
O tom irónico facilita a leitura e espero que o período eleitoral
presidencial brasileiro se conclua em tempo.
O mesmo se aplica ao ministro da Educação português, Nuno Crato. Que
bom era se ele mudasse de ideias, pelo menos em política educativa.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Sampaio da Nóvoa no Brasil contra "drama da emigração forçada"
Candidato à Presidência da
República participa nas comemorações do 10 de Junho organizadas pela Embaixada
de Portugal em Brasília
O anunciado candidato presidencial Sampaio da Nóvoa assinala
hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Brasil,
reforçando o papel da língua portuguesa e criticando o "drama da emigração
forçada" de jovens quadros portugueses.
"Estamos a desperdiçar a nossa maior riqueza: as
pessoas, os jovens qualificados, tudo aquilo que verdadeiramente nos pode fazer
sair da crise em que estamos. É uma realidade inaceitável, absolutamente
intolerável, que não pode deixar nenhum de nós indiferente. É um desperdício
provocado por políticas cegas, de vistas curtas, sem inteligência e sem
capacidade de compreender e antecipar o futuro", considerou Sampaio da
Nóvoa por telefone em declarações à agência Lusa a partir de Brasília.
O ex-reitor da Universidade de Lisboa participa hoje nas
comemorações do 10 de Junho organizadas pela Embaixada de Portugal no Brasil e,
na sexta-feira, irá receber um doutoramento Honoris Causa pela Universidade de
Brasília.
A língua portuguesa, advogou, é um dos "principais
patrimónios" do país, "no plano cultural, certamente, mas também no
plano económico e no plano político".
"A ideia da língua portuguesa marca muito esta minha
estadia em Brasília", prosseguiu Sampaio da Nóvoa, lamentando logo de
seguida o "drama da emigração forçada".
Aquela situação
foi "sempre o pior" da História de Portugal e agora é
"infelizmente" o presente do país.
"Falta visão
e liderança, capacidade de mobilização dos portugueses feita com confiança e
esperança. É para isso que me candidato a Presidente da República, para juntar,
unir os portugueses em torno de causas maiores", reforçou.
No próximo 10 de Junho, e se for "por vontade e eleição dos portugueses" Presidente da
República, Sampaio da Nóvoa apresentará palavras em torno do seu projecto de
união em torno um país "desenvolvido, pátria de igualdade, capaz até -
estranhamente para alguns - de acolher jovens de outros países", uma
"terra de acolhimento e oportunidade".
O ex-reitor da
Universidade de Lisboa, de 60 anos, apresentou a sua candidatura presidencial a
29 de Abril, no Teatro da Trindade, na capital.
Nascido em
Valença, no Minho, conta com o apoio dos três antigos presidentes da República
- Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio -, que estiveram nas cerimónias
de apresentação da sua candidatura em Lisboa ou no Porto.
O antigo reitor ganhou visibilidade mediática quando
presidiu às comemorações do Dia de Portugal em 2012, faz hoje três anos.
Sampaio da Nóvoa dedicou então as primeiras palavras do
discurso do 10 de Junho aos portugueses desempregados a viver "situações
de dificuldade e de pobreza".
in Diário de Notícias
10 de Junho 2015
domingo, 14 de junho de 2015
O Alexandre, a Mariana e António Nóvoa
“Não
deixemos que a esperança também emigre”
Apesar da
falta de forças e dos azares da vida, quis estar presente na apresentação da
Carta de Princípios de António Nóvoa (AN) no Teatro Rivoli do Porto. Nóvoa e o meu
falecido Irmão Ademar tinham estreitado amizade nesse pós-25 de Abril “inteiro
e limpo”. Eu acabara por ter o meu pequeno espaço dentro dessa amizade. Ademar
falecera num 22 de Maio, a apresentação era a 25. Como não estar presente?
Primeiro problema: onde deixar o carro, vindos de Braga,
pois eu e o marido decidíramos ir cedo para arranjar lugar no Teatro?
Estacionámos, mas havia um problema com o parcómetro. Um arrumador perguntou
delicadamente se podia ajudar. Pelo modo como se expressava, vi que não era
como os arrumadores habituais. Disse-lho. Ele confirmou que outros já lhe
tinham dito o mesmo. Perguntei o que lhe acontecera. De modo humilde e tentando
esconder a tristeza, lá foi dando alguns pormenores. Tinha razoáveis
habilitações académicas - indicou algumas -, mas há dois anos que não conseguia
emprego. Já não tinha carro nem net, e o estado dos dentes da frente, para cuja
recuperação não tinha dinheiro, também tinham sido um obstáculo à obtenção de
emprego. Perdera a vergonha e tornara-se arrumador. Uma professora amiga
dissera-lhe que vergonha era ficar de braços caídos. Ele sabia que era
diferente dos outros arrumadores, mas sabia também que não era isso que lhe ia
arranjar emprego. Percebi-o bem: a interminável construção civil à volta da nossa
casa, dantes tão sossegada, e a falta de alternativas logísticas, mesmo para
descanso de verão, agravaram a minha situação oncológica. Mas em que é que essa
explicação me retira as dores e o perigo de vida? Seguimos as sugestões deste
arrumador – só fixei um dos seus nomes, Alexandre - e sei que nunca mais o
esquecerei.
No Rivoli,
ao tentar explicar porque se candidatava, AN falou de Mariana, 19 anos,
estudante universitária, que lhe mandara uma mensagem em que falava da sua
tristeza por viver num Portugal cinzento que sentia sem alegria, sem esperança
e sem futuro, temendo ter de emigrar para ganhar o seu sustento. Veio-me de
imediato à memória um magnífico jovem enfermeiro de Lisboa que, depois do
mestrado, não satisfeito com as más condições em que tinha de trabalhar,
emigrou para Londres e foi tão bem recebido no hospital onde agora estava.
Esses enfermeiros, qualificados e pautados pela ética do cuidado,
queria-os em Portugal, não no estrangeiro. E tantos outros jovens de outras
áreas. Nunca mais me esqueço do dia em que, a um e-mail meu, me respondeu já de um café em
Londres.
Não sei se
AN vai ganhar ou não. É certo que, como disse no Porto, representa uma
candidatura improvável. Mas isso nada diz dos resultados que irá alcançar. O
que sei é que a candidatura de AN veio trazer muita esperança, a meu ver
fundada, a muitas portuguesas e muitos portugueses. Como disse no Rivoli, “A
política não serve para justificar inevitabilidades, para se conformar com a
fatalidade, serve para dar o exemplo, para abrir caminhos. Com coragem, com
alegria, porque a alegria é a coisa mais séria da vida. Todos temos direito à
humanidade da vida, à felicidade. Espero que voltemos a acreditar. Não deixemos
que a esperança também emigre”. Recordei-me então de um antigo Daily Show de Jon Stewart (já agora, porque é que
não há um programa do género em Portugal?), em que, aquando da vitória de Obama
em 2008, o opositor republicano Mccain tivera de dizer aos seus
correligionários que era preciso respeitar um homem que elevara tanto a
esperança dos americanos. AN convenceu muitos de nós de que a esperança
substantiva não tem que emigrar. Só posso querer que esse desejo, essa audácia
da esperança, se vá concretizando.
Laura Ferreira dos Santos
Professora aposentada da Universidade do Minho
PÚBLICO (14 Junho 2015)
sábado, 13 de junho de 2015
sexta-feira, 12 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
sábado, 6 de junho de 2015
sexta-feira, 5 de junho de 2015
quinta-feira, 4 de junho de 2015
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Subscrever:
Mensagens (Atom)